A aplicação da imagem info-midiática na formação de conceito

Por:  Edilson Ferri
“A mídia não cessa de transformar o mundo em imagem, multiplicando-o numa fantasmagoria de jogos de espelhos: essas imagens, freqüentemente, são desprovidas da necessidade interna que deveria caracterizar toda imagem, ao mesmo tempo em que é forma e significado, impondo atenção e sentidos virtuais”. (CALVINO, 1989 p. 100).

O mundo está coberto de imagens que nos chegam dos mais longínquos lugares, em múltiplas linguagens e repletas de informações. Percebe-se que a influências da mídia informatizada possui, indefinidamente, diferentes campos que envolvem tanto a tecnologia atual, quanto a passada.

A era industrial foi substituída pela era da informação ao mesmo tempo em que novas descobertas da história da humanidade são reveladas utilizando-se de conhecimentos científicos contemporâneos.

Nas últimas duas décadas as idéias de aproximação e o avanço da informação ou a Sociedade do Conhecimento causaram diversas convergências e divergências para o florescimento de uma cultura da imagem descartável. Com uma avalanche de informações uma vez que, o uso do computador possibilitou diferentes processos de apreensão do conhecimento, principalmente com o advento da informática, o ato de pensar informação entrou em suspense com o futuro ligado ao Homem Virtual e a comunicação no universo cibernético.

Aliadas às novas tecnologias dos conhecimentos humanos, e passando por transformações de função social redefinindo valores e necessidades da sociedade, as relações reflexivas entre tecnologia e a sociedade abordaram a fundamentação de habilidades e conhecimentos específicos.

A procura do estabelecimento de parâmetros de comparação do lugar em que estamos com o de onde viemos e para onde vamos é nossa maior duvida ancestral. Este fato perturbador que move a humanidade tem reflexos em todo o percurso da história do homem. Entender as formas de percepção de espaço e tempo como elementos de apreciação do mundo que nos rodeia, pode nos levar a reflexões quanto às possibilidades de análises sintáticas do objeto material, como entidades identificáveis, símbolos de representação da compreensão humana como códigos normativos incorporados e normatizados dentro de padrões estabelecidos e aceitos como regra.

Objetos, símbolos e códigos apresentam-se como imagens ao consciente, mas perpetuam seus valores no inconsciente. Através do vazio deixado entre a concordância e o desconhecimento, a falta de uma percepção mais apurada impulsiona a aceitação da imagem recebida como sendo prova da existência do objeto, mesmo que ele não exista verdadeiramente. Sendo assim compete-nos uma abordagem mais ampla quanto à utilização da imagem como meio de comunicação e formação de conceito.

A possibilidade ocorrida com a proliferação do meio digital transformou um planeta em uma grande colméia eletrônica e o tempo em pulsos eletro eletronicos, medindo nosso grau de interação com a quantidade de “links” acessados, sítios visitados e mensagens recebidas. Somos bombardeados de informação e imagens a cada “navegação” na rede. A imagem info-midiática da contemporaneidade é um elemento de visualização rápida mesmo que tenha alguma propriedade de contemplação.

Símbolos de uma idéia, objetos convertidos em imagens são apresentados como representação midiática entre quem lança e quem recebe uma reprodução gráfica, alegoria da expressão de uma idéia sob forma figurada do desejo de comunicação, a imagem é o elemento de aproximação do assunto ao interprete, é o recurso de conexão do fato ao processo mental de compreensão na dinâmica da vida.

O processo de incorporação e interpretação do fato passa necessariamente pela imagem, seja ela física ou mental, ela é resultado da construção da consciência sobre o que é realidade. A consciência reflete sempre a individualidade do ser humano em relação ao seu juízo, conseqüentemente nossas percepções, pensamentos e lembranças, sensações e emoções são integrados e agrupados no tempo presente. O fato como fato é inalcançável e precisa ser codificado para ser entendido e absorvido pela mente.

A capacidade de codificação do fato e seu imediato armazenamento como mensagem passa pela relação virtual-real e nela tem a possibilidade de aceitação ou rejeição da imagem como representante verdadeiro do indício. Cabe aqui salientar que imagens veiculadas por meio das redes e de sistemas de dados interativos como a Internet e outras redes telemáticas, visam um entrelaçamento de relações informativas existentes entre a mídia e a nossa percepção prática, cabendo verossimilhança interpretativa na relação das características disponíveis.
“É a ausência de estruturação rígida da imagem que cria essa “falta de comunicação”, falta essa que se pode constatar facilmente, por exemplo, quando se pede a várias pessoas para comentarem a mesma imagem, o que torna caduca a noção semiológica de código.” (DARBON, 2005, p, 102).

A afirmação que o autor faz para o entendimento do universo de códigos pode ser contundente para o campo da pesquisa cientifica, mas traduz a percepção do observador como elemento distinto das formulas conceituais, teóricas e metodológicas, afirmando assim a relatividade no decorrer da recepção da imagem.

“Quando se faz fotografia artística, ou pintura, não representa incômodo – até isso faz parte do jogo – o fato de o receptor atribuir todas as significações que quer aquilo que está vendo: mergulhamos nesse momento, no domínio da subjetividade e da sensibilidade, não no do discurso racional.” (DARBON, 2005, p, 102).

A interpretação é plenamente discutível, mas sabemos que a indução à interpretação é um jogo e é nele que nos causa maior interesse para exploração dos conceitos de composição imagética, já que é nele que estão as maiores dúvidas com relação às verdades que a rigor podem ser usadas por um emissor como se nelas existisse veracidade. Desta forma, negligenciamos a nós mesmos, por não filtrarmos a informação, consentimos sem questionamentos, a perpetuação da imagem como representante concreto do fato.

Pensemos na representação da seguinte hipótese. Quando uma imagem impressa é descartada, podemos seguir dois caminhos. Um é o da destruição do papel onde está, por exemplo, uma impressão; poderíamos picá-lo em pequenos pedaços e espalha-lo em um sexto repleto de lixo, ou até mesmo queima-lo transformando-o em cinzas e descaracterizando sua forma e matéria. Por outro lado mesmo quando reciclamos papel, no momento do descarte não nos desfazemos somente do papel em si que podemos desmancha-lo e transforma-lo em celulose para depois converter-lo em novo papel, mas nos desfazemos da informação impressa nele. Informamos o material, mas perdemos definitivamente a imagem informacional.

A informação como meio de se exprimir algo como fato formalmente entendido, como explica Flusser ao tratar da relação forma e matéria. ”…o conceito de informar, que significa impor forma a matéria.”(FLUSSER, 2007, p. 31).
A flexibilidade da informação é capaz de gerar novos símbolos a cada momento, e sua mutação ocorre de acordo com os padrões construtivos de cada contingente humano, culturalmente organizado dentro de formas divergentes e padrões culturais e cognitivos. Imagens que podem causar horror para um determinado grupo sócio-cultural, podem ser elementos de excitação para outros, e certamente irão encontrar leituras distintas por todo o mundo.

Na contemporaneidade a informática acaba gerando uma maior circulação de idéias que nos convidam a abordar as mudanças de nossa convivência com a participação no universo tecnológico, transformando o mundo e passando pela explosão da mídia e das redes. A mobilidade espacial das chamadas novas tecnologias nos conecta em tempo real aos acontecimentos e muda nossa percepção dos fatos e da maneira de ver e sentir o mundo na nova sociedade informatizada.

Porém o que desconsideramos é que a constituição da representação é uma elaboração pensada por um ser de formação sócio-cultural que provido de um equipamento de captura de imagem enquadra o mundo, em um recorte de tempo e espaço.

“A produção da obra fotográfica diz respeito ao conjunto dos mecanismos internos do processo de construção da representação, concebido conforme uma certa intenção, construído e materializado cultual, estética/ideológica e tecnicamente, de acordo com a visão particular de mundo do fotógrafo.”( KOSSOI, 2000, p 42)
Da mesma forma que um momento pode ser registrado por uma câmera, um re-momento pode ser selecionado dentro da mesma cena. Tudo acontece ao mesmo tempo, porém o enquadramento desejado pode mudar completamente a percepção do fato, mudando ou inibindo a dialética com a possibilidade de re-enquadramento.

A manipulação da imagem através da seleção e composição é um recurso comum dentro da história e tem sido usada com maior eficiência, graças às novas tecnologias de captura, produção e veiculação.
Leitores destas imagens, pessoas com suas próprias bagagens e referências, em uma constante recriação e atualização do fluxo de comunicação, desconectam-se da realidade cotidiana podendo ser levadas até a interpretação maquiada da compreensão dos sentidos básicos de sobrevivência. “… não existe um real absolutamente verdadeiro, mas sim realidades interpretáveis, expressas pelas mediações dos signos e que são pensadas como tal” (KOSSOY, 2000, p. 38)

A discussão quanto ao fato da imagem ser formadora do mundo e por elas identificarmos acontecimentos que necessariamente não tem limites geográficos e que o objeto real a ser interpretado não passa de um sistema de códigos e regras de um conjunto de significação, vetoriza a metodologia de análise e organiza problemas de linguagem, mas não protege os processos de individuação.
O desvelamento de nossos problemas e a necessidade de reviver o que não foi vivido, mas sim sentido, é um ponto de pesquisa a ser abordado quando se fala de informação midiática através da imagem. A aquisição de um conhecimento só se dá pela vivência e a apreensão. Uma ciência, como é geralmente colocada, se baseia em dados reais e pragmáticos. Mas nossos sentidos não se satisfazem tão simplesmente.

A idéia de que as formulações de questões ligadas à interpretação da imagem precisam de conceitos observados com referências correspondentes a leitura. As análises significativas e hipóteses do conhecimento conceitual pré-estabelecidos da imagem provocam questões de entendimento relativas ao recorte aqui proporcionado e fornece informações perceptivas de reconhecimento pré-estabelecido por códigos acordados.

Estas passagens exigem certo conhecimento de parâmetros de comparação no estabelecimento de transmissão da informação formulado no momento da concepção da imagem. A compreensão destas questões é caracterizada sobre tudo por estruturas de reconhecimento, mas mesmo que o interprete não tenha esse conhecimento ele será habilitado a distinguir similaridades que podem ser observadas através dos mesmos termos de reflexão.

O mundo virtual é regido por políticas de privacidade e relacionamentos que nem sempre têm um controle efetivo sobre o que é permitido ou divulgado através do processamento e transmissão de informação. A ciência e o estudo dos métodos e modos de informação não se manifestam apenas pelo fato da existência de um computador, mas sim pela necessidade do homem de propagar seus ideais. Em uma representação dada da realidade reorganizada pelo emissor, e que será recebida por um receptor, fruidor e interpretes e por todos aqueles que tiverem contato com a imagem. Os processos de compreensão do mundo têm dificuldades ainda maiores para romper barreiras sociais e atingirem ideais de vida.

Desejamos viver além da vida, desejamos viver no mundo do sem vida, mergulhar na imaginação literalmente descrita e conectarmo-nos à ilusão dos sentidos, este é o propósito de tanto bombardeio de imagens que nos rodeiam e que furtivamente nos deixamos levar. Navegantes, com espírito de exploradores somos colecionadores de relíquias que vão ao encontro do sonho desejado esteja onde ele estiver, mesmo que fisicamente, não passe da tela de um monitor.

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