O crítico

Por:  César Romero
Profissional: Crítico
 
Em resumo o crítico de arte é o elo entre o artista e o público. Nesta redução, parece tarefa simples. Mas é extremamente complexa, envolve diversos saberes, múltiplas disciplinas, pensar ordenado e capacidade de situar o criador a comunidade, seu contexto e evolução. Um constante promover de análise sistêmica, exame detalhado do conjunto de tudo aquilo que existe no espaço e no tempo da visualidade.
Os primeiros escritos sobre obras de arte e artistas vem da Grécia antiga, com Duride Di Samo no século IV a.C. que dedicou grande parte de sua vida escrevendo sobre a arte do seu tempo.
Influenciado pelo pensamento clássico, a atuação do crítico desenvolveu-se como argumentação informativa e comparativa no século XVIII, quando no entusiasmo de manifestações artísticas, mudanças radicais de comportamento, mercado e crescimento da importância da imprensa escrita.
O francês Denis Diderot (1713-1784) foi o primeiro crítico de arte moderno. Escritor, enciclopedista e filósofo, iniciou-se em 1759 como comentarista de obras de arte e dos impactos dos salões parisienses no Salão Carré do Louvre. Atuou como difusor de tendências artísticas, debatendo impressões. Foi a célula inicial do gênero.
No Brasil o primeiro crítico foi Gonzaga Duque (1863-1911) quando explorou textos reflexivos sobre arte, sua função e utilidade. Antes dele os textos eram meramente descritivos, análises baseados no óbvio visível, como uma dissertação de colegial iniciático.
Na Bahia o pioneirismo em crítica de arte coube a Carlos Chiacchio (1884-1947), mineiro de nascimento, chegou a Salvador com 11 anos. Formou-se em medicina e exerceu múltiplas atividades relacionadas à cultura. Foi escritor, crítico literário e entre 1928 a 1946 escreveu na grande imprensa baiana, ressaltando o que havia de importante nas áreas de artes plásticas. Dentre as publicações de Chiacchio, destacam-se os livros Biocrítica (1941) e Modernistas e Ultramodernistas (1951).
 Ao crítico de arte cabem análises bem fundamentadas e critérios de juízos de valor, que surgem com o acúmulo de informações e acompanha suas experiências do olhar, estudos, leituras, convívio com os artistas e seus produtos. Aspectos subjetivos não devem ser utilizados como normas, mas cabe a disposição racional de aceitar diversidades. Resalta- se o lado interpretativo do crítico, nem por isso menos importante, posto que se abra ao diálogo.
O crítico de arte contribui com a história da arte, documentado seu tempo, formulado entre caráter múltiplo e também interdisciplinar. A filosofia, sociologia, antropologia, historiografia, pedagogia, psicologia, literatura, contribuem na fundamentação do conhecimento da arte.
Um crítico de arte pode dedicar-se exclusivamente a pesquisas, história da arte e seus movimentos, ser enciclopedistas, professores e atividades ligadas à doutrina da visualidade.
Ao crítico pragmático cabem curadorias, júris de seleção e premiação de certames artísticos, congressos, seminários, debates, formação de acervos particulares e institucionais, interlocução com artistas, acompanhamento de carreiras, palestras e organizações de contextos. Não se concebe um crítico imperativo, como se suas observações e forma de escrever fossem as mais acertadas, mais lógicas, de maior alcance e que sua “fórmula” deveria ser aplicada por seus pares. A crítica de arte não é uma ciência.
O crítico de arte é um especialista, necessita de informações atualizadas, o mundo globalizado e sua emergência trazem a cada momento novos produtos, investigações e desafios. Não se pode estar em todas as exposições do mundo e o crítico em sua atividade nos diversos continentes onde atuam, aproxima conhecimentos e valores.
A crítica de arte é também um ramo da literatura, exemplos lapidares são os textos de Walmir Ayala, Jayme Maurício e Paulo Mendes de Almeida.
O trabalho do crítico é buscar estratégias de comunicabilidade, apoiando nos fundamentos das ciências humanas. E, sobretudo, despertar sentimentos e ativação do intelecto e dos órgãos dos sentidos ao primeiro contato com o trabalho artístico.
César Romero é artista plástico e crítico de arte. Membro do conselho consultivo da APAP e membro da ABCA Associação Brasileira de Críticos de Arte.

1 comentário

  1. Alberto Beuttenm6ller
    Parabéns à APAP pelos 33 anos de fundação.

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