Salões de Arte

Por:  Walter Miranda


Como artista plástico profissional, alegra-me muito ver a continuação de um evento cultural que proporciona um espaço para apresentar a produção artística espontânea e independente de modismos.
O grande número de artistas de diversos países, além do Brasil, que se inscreveram no Salão de Arte de Outono, em sua primeira e nesta segunda edição, reforça a opinião de que se fazem necessários mais eventos culturais com essa característica. Mais do que nunca, hoje, faz-se imperativo respeitar a criatividade artística ao invés de impor conceitos filosóficos e moldar conceitos estéticos para direcionar a produção artística contemporânea.
A verdadeira Arte é aquela que nasce no coração dos artistas e materializa-se em função de seus sonhos, anseios e necessidades filosóficas. Ela é livre e independente da condução e coerção estética, temática, técnica, conceitual e mercadológica.
Em uma época em que se critica a existência de salões de arte, ao afirmar que eles são anacrônicos, é preciso lembrar que a democracia também é antiga, mas ainda assim se configura no modo mais legítimo de governabilidade. Da mesma forma, os salões de arte ainda são a forma mais democrática de respeitar a produção artística espontânea e proporcionar espaços expositivos verdadeiramente livres de imposições formais.
 
No afã de criticar um academicismo ultrapassado, ainda é muito comum, hoje em dia, ouvir comentários equivocados a respeito dos salões de arte. Infelizmente, em contrapartida, criou-se um sistema artístico completamente autoritário que tenta moldar as expressões artísticas e, consequentemente, os artistas.
Este sistema atual, alternativo aos salões de arte, colocou os artistas em posição de coadjuvantes de uma nova ordem cultural que nada mais é do que um “Neo Academicismo”, já que exige dos artistas que dele participam, a obediência a determinadas regras estéticas, conceituais e filosóficas.
Este novo sistema tem parte da mídia impressa, falada e televisionada a seu serviço e a divulgação destes eventos aparentemente grandiosos, devido à veiculação da mídia, geram a ilusão de que a maioria dos artistas contemporâneos segue esta nova corrente Neo Academicista. Ledo engano, a verdadeira Arte (com A maiúsculo) continua forte e viva. A prova está aqui, na Galeria Marta Traba. Basta observar os trabalhos expostos no II Salão de Outono da América Latina.
Por isso, é preciso parabenizar a Eliana Minillo e Claude Martin pela iniciativa de criar um espaço multidisciplinar, comprometido com a liberdade de expressão e desapegado de interesses financeiros, já que a participação dos artistas é gratuita.
Parabenizo também a Fundação Memorial da America Latina, representado pelo seu presidente João Batista de Andrade e pela diretora da Galeria Marta Traba, Angela Barbour pela acolhida deste evento sumamente importante para os dias de hoje.
Espero que o Salão de Outono da América Latina tenha uma vida longa e aglomere cada vez mais artistas do mundo todo!
Por fim, é importante parabenizar os artistas que continuam a produzir seus trabalhos independentemente das correntes artísticas dominantes e das dificuldades decorrentes de políticas culturais equivocadas.
Parafraseando o general Romano Pompeu em sua frase, tornada famosa no poema de Fernando Pessoa escrito há exatos cem anos: “Criar é preciso, viver não é preciso”.
 Obrigado a todos!
 Walter Miranda – 8/maio/2014

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