Cartografias de Gaia

CARTOGRAFIAS DE GAIA
 
            Desde os tempos pré-históricos, o homem atua no sentido de transformar o ambiente em que vive objetivando melhores condições de vida. Começou pela agricultura e pecuária. Com o advento da indústria, esse processo se acelerou. As descobertas científicas e o progresso tecnológico contribuíram para o conforto do homem, mas passaram a ser uma ameaça a ele na medida em que contribuíram para a destruição da natureza. Poluição, efeito estufa, aquecimento global e outros representam o lado negativo do progresso e estão a exigir medidas corretivas por parte do homem, do estado e das nações para evitar impactos destrutivos da natureza sobre o homem. Tudo isso nos leva a crer que a humanidade precisa desenvolver técnicas sustentáveis de aproveitamento dos recursos naturais, ou seja, tecnologias que garantam a preservação dos recursos naturais para as próximas gerações permitindo assim a continuidade da vida do homem no planeta terra.
           O projeto “Cartografias de Gaia” de autoria do artista plástico Walter Miranda, ambiciona ser uma expressão plástica dessas ideias. O autor cria suas obras em técnicas mistas e interpretações artísticas de projeções cartográficas, utilizando elementos descartados por processos industriais ou pelo uso cotidiano tais como placas de computador; componentes eletrônicos (chips, processadores, alto-falantes, diodos, interruptores eletrônicos); palitos de fósforo queimados, cacos de vidro, filmes de PVC; moedas velhas, farelos de borracha, aparas de lápis, relógios, chaves e cadeados, balas de revolver, além de contrapor esses elementos com outros criados pela natureza, entre eles, sementes diversas, conchas, caracóis, terra, areia, pedras, cascos de tatu e outros. A mensagem que ele procura passar com sua obra é a de que a natureza pode existir sem o homem, mas este não sobrevive sem a natureza. E que o mundo tornou-se perigoso porque, segundo Albert Schweitzer, os homens aprenderam a dominar a natureza antes de dominarem a si mesmos.
              Todos esses elementos são colocados nos trabalhos expostos de acordo com um planejamento de ordem estética a fim de criar texturas e efeitos visuais peculiares que provocam a curiosidade e interesse do espectador e, consequentemente, reflexões sobre o tema abordado pelo artista.
                                                    Enock Sacramento – Crítico de Arte e Curador

 
             Desde 1976, venho criando obras usando técnicas mistas e materiais diversos para abordar questões que me incomodam, sejam elas de ordem filosófica, social e ambiental, pertinentes ao meio em que vivo e a questões globais.
            Dependendo da temática e da proposta conceitual, meus trabalhos são planejados por meio de uma geometria formal e rigorosa, derivada de conceitos construtivistas. Entretanto, em algumas séries de trabalhos crio uma composição econômica que dramatiza o resultado visual das obras. Esse é o caso da série “Cartografias de Gaia”, que venho realizando desde 2007 e que apresento no Centro Cultural Correios São Paulo. Nela faço uso artístico de vários tipos de cartografias do mapa-múndi a fim de provocar reflexões filosóficas sobre a situação atual de degradação ambiental no planeta, provocada pelas ações do ser humano.
                Para representar tanto os oceanos quanto os continentes utilizo a pintura a óleo agregada a alguns elementos da natureza e diversos materiais descartados pela sociedade contemporânea. Com isso, crio texturas e efeitos visuais peculiares. Também me aproprio de alguns objetos de uso cotidiano para realizar intervenções pictóricas neles e transformá-los em obras de arte alusivas ao tema.
                 Assim, a dicotomia criada ao usar elementos da natureza junto com elementos produzidos pela tecnologia atual instiga o imaginário do espectador e provoca nele avaliações pragmáticas sobre a questão do meio ambiente e da qualidade de vida do ser humano no planeta. Além disso, ao usar a tradicional técnica da pintura a óleo e a incorporação de novos elementos materiais procuro colocar em foco o uso de novos procedimentos artísticos e conceituais referentes à técnica e objetivos da Arte Contemporânea.
                 Em síntese, procuro criar obras que valorizem o desenho, a forma, a composição e a cor, porém, de forma heterodoxa devido à combinação desses conceitos técnicos com o uso de elementos alheios ao universo da pintura tradicional. Acredito que o resultado seja uma obra pictórica contemporânea, não convencional, que exerce grande força visual e atrativa no espectador.
                No caso específico da série “Cartografias de Gaia”, procurei fazer uso das questões estéticas acima mencionadas para levantar questões sobre a “suposta” impunidade do comportamento Humano, tais como:
o   Seremos, um dia, interrogados sobre as inconsequências causadas pelo uso desordenado da tecnologia?
o   Serão nossos inquiridores, nossos próprios descendentes?
o   Será o supremo tribunal um planeta desolado e devastado pela nossa civilização?
 
 Walter Miranda – Primavera/2018

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