“Discuto a poética da ocupação do espaço urbano, do entorno do edifício, hora bucólico, hora frenético, mas sempre ruidoso a ação que não aconteceu ou não é percebida do espaço construído com a sobreposição da informação o espaço e o tempo reorganizados virtualmente.” Edilson Ferri
Edílson Ferri é um pintor que consegue reter a luz dentro das estruturas geométricas de seus quadros. A cor, contida dentro de um traçado, emerge como retângulos de um vitral contra o sol. A sua dinâmica significa denúncia decisiva de cada forma de inspiração e deseja representar uma nova e consciente proposta pela abolição da representação figurativa. Partindo dessa raiz, o artista vê a expressão visiva como realidade fantástica e contrapõe a geometria abstrata à arte imitativa.
O traço adquire as suas justas dimensões, não em virtude de uma situação emocional, mas em relação aos puros valores existentes entre espaços e planos. A ação progressiva foge à elevação e cria, através dos pontos de luz, um "paradigma mono-dimensional" até alcançar um simbolismo decorativo.
A cor aplicada nas zonas geométricas - formadas e envolvidas através do recurso dos traços - cria uma trama tecida de sensível efeito. O variar cromático e o entrelaçado - racional e peremptório - dos percursos, provocam situações espaciais, ágeis e móveis, que inspiram as mais amplas implicações.
Suas massas, ora enigmáticas e impenetráveis, ora ambiguamente luminosas, constituem, juntamente com a cor, os componentes essenciais de seus quadros. A luz improvisa e forte, quase artificial, parece congelar a ação, sem cancelar todavia a presença constante de pensamentos e de recordações. A precisão e a tranqüilidade estão, entretanto, lá onde o grafismo prevalece.
Artista-arquiteto, em suas visões sobre o ambiente urbano, Ferri fundou a própria linguagem sobre um sistema de espaços que, diversamente divididos, articulam o espaço numa pluralidade de prospectivas. Suas "paisagens" vistas do alto, parecem se colocar na confluência da realidade e da memória; no rigor de uma implantação urbanística meditada em cada componente e em cada sua interna relação. Elas concluem momentos específicos de uma experiência visiva e, ao mesmo tempo, emotiva.
Em vista da utilização de cores sonoras e impregnadas de luminosidade, essas "paisagens", como em "Geometria urbana", obra doada ao Acervo Artístico da Assembléia Legislativa, transmitem alegria e felicidade, miragens que são de um cosmos em perfeito equilíbrio entre sentimento e intelecto.
O Artista
Edílson Ferri nasceu em São Bernardo do Campo, SP em 1963. Iniciou-se na pintura em 1977. Formou-se em Arquitetura e Urbanismo na Faculdade São Judas Tadeu e hoje estuda Arquitetura e Urbanismo no Centro Universitário Belas Artes.
Participou de diversas exposições individuais e coletivas, entre elas: Salão Lauro Gomes, São Bernardo do Campo, SP (1981 e 1985); Salão de Artes "Sindicato Ano Zero" (1983); I Exposição Coletiva de Artes Plásticas em Diadema, SP; Espaço Cultural de Santo André, SP (1984, 1985, 1988); Tênis Clube de S.B.C., SP (1984); Clube de Engenharia de Santo André, SP; 21° Salão de Artes Plásticas de Embu, SP (1985); FEC do ABC, São Caetano do Sul, SP (1985); III Salão de Artes Plásticas de Rio Claro (1985); Câmara Municipal de Santo André, SP (1983, 1984, 1985 e 1988); I Salão de Arte Contemporânea de Americana, SP (1985); I Salão Regional de Artes Plásticas de Santo André, SP (1985); XII Salão Limeirense de Arte Contemporânea (1985); Espaço Cultural Caixa Econômica Federal, S.B.C., SP (1985); Salão Meios e Tendências Fundação das Artes, São Caetano do Sul, SP (1985); Centro Cultural "Tao Sigulda", Campo Limpo Paulista, SP (1986); ACM, SP (1986); III Encontro de Artes de Osasco, SP (1986); 15° Salão de Arte Contemporânea de Santo André, SP (1987); Artistas Andreenses, Santo André, SP (1987); Pinacoteca do Diário de Grande ABC, SP (1987); Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis (1988); "Artistas Jovens do ABC" Santo André, SP (1990); Associação dos Funcionários Públicos de SBC, SP (1991); 1° Salão de Artes Plásticas de S.B.C., SP (1991); Oficina de Artes de São Caetano do Sul, SP (1993); "Projeto 1001 Artes", SP (1993); Universidade São Judas Tadeu, SP (1993); Retrospectiva 15 anos - Escola Oficina de Artes (1997); Arte Tamboré e Tamborim, SP (1998); Arte Pública, Diadema, SP (2000); Pinacoteca de S.B.C., SP (2001); Meninos do Brasil UNICID, SP (2001); "Sacro e Profano", FUNARTE, SP (2001); Galeria Espaço Arte, Santo André, SP (2002); "Um líquido chamado água", Teatro Municipal de Mauá, SP e Faculdade Tereza Ávila, Santo André, SP (2002); Casa de Portugal, SP (2003); Mostra de Arte e Decoração, SP (2003); "Latinidades", Diadema, SP (2003); "Bolsa de Idéias", SP (2003); "Uma viagem de 450 anos", SP (2004); Projeto Artscars - BMW - Galeria Nova André, SP (2004); "Litografias", Pinacoteca de S.B.C., SP (2004).
Possui obras na Pinacoteca do Diário do Grande ABC, Santo André, SP; no Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, SC; na OAB de Santo André, na Pinacoteca de São Bernardo do Campo e no Acervo Artístico da Assembléia Legislativa de São Paulo.
Urbanidades
A arte é uma expressão de mundo que ganha sentido sempre que o criador se volta para um tema sobre o qual tenha algo a dizer. Edilson Ferri, na exposição Urbanidades, parceria entre a Unesp e a Associação Profissional de Artistas Plásticos de São Paulo, traz a sua visão da cidade com um olhar diferenciado.
Seja na pintura com técnica mista ou nas fotomontagens, apresenta a fragmentação e a justaposição como características de um universo sobre o qual é possível lançar múltiplas percepções. Locais históricos da capital paulista e de outros ambientes, assim como pedações de outras imagens são colocados lado a lado num jogo de cores e formas.
Arquiteto de formação e com os primeiros passos na arte marcados pelo prazer de realizar pequenas paisagens citadinas, Ferri ergue atualmente os seus próprios mundos, em que monumentos, esculturas, edifícios e pessoas interagem num diálogo maduro e pleno de significados e significações. Um fator essencial está nas maneiras de ver o cotidiano como o ponto inicial de uma reflexão sobre os sentidos do aparente caos em que se vive numa metrópole. Há nisso tudo uma ordem
interior, uma busca de parentescos imagéticos que dão ao trabalho do artista uma mescla de sabor crítico ao que chamamos de real e um fazer compositivo diferenciado.
(Oscar D’Ambrosio, doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie e mestre em Artes pelo Instituto de Artes da Unesp.)